Publicado em: 04/09/25 às 18h

Inteligência Artificial em Debate: Desafios e Oportunidades

Durante o mês de agosto, estive presente nas mais diversas cidades do estado do Rio Grande do Sul, palestrando através do XXIII CIDEAD no IFRS - Rolante, Unicnec - Osório, Univates - Lajeado, UCS - Campus Nova Prata, Uniftec - Caxias do Sul, UFSM - Campus Palmeira das Missões e IFRS - Santo Augusto.

E, durante todos esses percursos, nos deparamos com os mais diversos pontos de vista e percepções acerca do momento que estamos vivendo e dos potenciais desafios que cada instituição e corpo docente têm percebido.

Separei abaixo 5 pontos que foram os mais discutidos e que mais chamaram a atenção durante estas 7 palestras, bem como seus principais tópicos para debate:

1 - A IA e suas fragilidades quando o assunto exige compaixão


Um caso relatado e que gerou grande impacto durante os debates foi o de um professor que havia perdido sua companheira há 2 meses e, ao perceber que ele estava sem parceira, o algoritmo do Facebook passou a sugerir amizade prioritariamente com pessoas do sexo oposto. Esse é um claro exemplo das falhas de sensibilidade e de contexto da inteligência artificial. O professor em questão relatou pensar em sair da plataforma, pois se sentia ofendido pelas “investidas” da mesma acerca de sua condição de relacionamento.


Fica a reflexão e a percepção de que caminhamos para grandes mudanças, mas ainda temos uma inteligência que não está percebendo padrões quando o assunto é empatia e sentimento humano.


2 - Debate sobre a utilização dos GPTs dentro das universidades e o controle do uso


Outro ponto importante abordado em quase todos os eventos foi a necessidade de uma regulamentação do uso no meio universitário. Uma vez que a utilização é praticamente inevitável, como fazemos para que ela seja aplicada de maneira consciente e realmente agregue ao ambiente acadêmico?
Como utilizá-la de forma ética dentro dos centros administrativos das universidades?


Todos esses foram pontos discutidos, a principal conclusão a que todos chegaram foi a necessidade de uma regra clara de utilização dentro das universidades, tanto para alunos quanto para o corpo docente e administrativo. Neste último caso, faz-se necessário um adendo: é preciso que a liderança encarregada nos setores da universidade tenha pleno conhecimento do tipo de utilização dos GPTs e determine, através de regras claras, até onde eles podem ser usados sem causar nenhum tipo de prejuízo à instituição.


3 - Pensamento Crítico


Em muitos momentos, o pensamento crítico esteve presente em meio às discussões pós-palestra, inclusive quando estávamos apresentando as notícias atualizadas da IA. Essa foi uma pauta constante e, quanto a isso, acendo um alerta para pensarmos juntos.


Precisamos ser críticos em relação ao que é noticiado e verificar se realmente os avanços e as últimas notícias condizem com a realidade do que poderemos vir a viver. Mas também necessitamos entender que não podemos lutar contra a mudança. Em um dos debates, tivemos um empreendedor que foi muito cético quanto à substituição de seus colaboradores a longo prazo.


Não necessariamente isso ocorrerá no curto prazo, ainda mais no Brasil, mas precisamos aceitar que, em países desenvolvidos, robôs humanoides autônomos já estão em fase de testes e aplicação em ambientes controlados.


Segundo Kai-Fu Lee, estamos vivendo atualmente a primeira (Internet) e a segunda (Negócios) ondas da IA, mas quando atingirmos a terceira (Percepção) e a quarta (Autônoma) ondas, estaremos em uma nova era da nossa sociedade, assim como vivemos a Era Industrial, o início dos computadores pessoais, a internet, as redes sociais etc. Segundo o CEO do Google, o impacto da IA será ainda mais profundo que o da internet e comparável a descobertas como eletricidade ou fogo. Então, por que, em vez de lutarmos e permanecermos presos ao que estamos acostumados, não buscamos entender o contexto e estar atentos aos avanços?


Urge, no empresariado e no meio acadêmico, uma sede de entendimento mais aprofundado sobre o tema e sobre as possibilidades que a IA e seus benefícios podem trazer. Foi um grande prazer poder compartilhar reflexões a respeito desse assunto.


4 - Implementação da IA


Uma das dúvidas recorrentes sempre foi: “Tá, gostei, e como inicio?”


Em uma ocasião, inclusive, um empreendedor trouxe uma questão para reflexão: “Necessito de colaboradores com essas habilidades, mas onde encontro?”


Avaliando o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial e suas estimativas de formação de profissionais (20 mil por ano até 2028), isso é realmente alarmante. Não só as empresas não conseguem tangibilizar as possibilidades da IA, como os profissionais ainda não possuem grandes experiências com a tecnologia. Ao perceber todo esse movimento e analisar as perspectivas, ficou claro que todo profissional que tenha entendimento sistêmico ou técnico terá um vasto campo de trabalho nessa área. Porém, é necessário sempre um entendimento básico sobre como analisar as possibilidades de implementação, como, por exemplo, tarefas repetitivas.


Como administrador, o primeiro passo, e comentei isso nas palestras, é realizar o desenho do macroprocesso e seus gargalos e, a partir disso, buscar ferramentas que possam suprir esses desafios. Isso pode, inicialmente, ser resolvido através de sistemas de automação e não de IA. Validada a implementação e analisada a partir de indicadores, aí sim temos a oportunidade perfeita para a IA.

Foi por inúmeros questionamentos dessa ordem que eu e o Prof. Dr. Jefferson Monticelli cocriamos o CANVAS IA, para que tenhamos uma visão sistêmica de como implementar.


5 - As máquinas substituirão os humanos no mercado de trabalho?


Cerca de 56% das pessoas entrevistadas pelo Datafolha afirmam ter medo da extinção das suas profissões. Esse também foi um ponto de destaque durante as palestras e, principalmente, durante os debates. O medo, a falta de informação e as constantes notícias sobre os avanços da IA geraram inúmeros questionamentos sobre esse tema tão polêmico.


Diante desse cenário, é importante afirmar que Kai Fu Lee fez uma matriz que mostra uma visão sistêmica sobre o assunto, a qual é apresentada durante a palestra e que deixo abaixo:

Observem os quadrantes e notem que apenas onde a otimização é necessária e a compaixão é desnecessária deixaremos de atuar definitivamente; nos demais quadrantes, atuamos, inclusive, com o uso da IA.